Alguém lá em cima está vendo
Sílvia tinha um
relacionamento, diferente de tudo que se tinha visto, com Ricardo.
Apesar de ambos gostarem muito um do outro mutualmente, eles
discutiam sobre coisas banais e sempre terminava em uma separação
temporária. Ricardo tinha um sério problema, ele acreditava muito
no que os outros falavam sobre sua companheira, inclusive as fofocas
das irmãs dela.
Ela não entendia, porque
as suas irmãs não a queria vê-la feliz. Sílvia sempre quis o bem
delas, mas mesmo assim não entendia o porquê desta guerra
psicológica em seu relacionamento amoroso. Desde pequena, Sílvia
era rejeitada por elas. Uma rejeição desfaçada de falta de
atenção, mas uma rejeição. Esta atitude a deixava muito triste.
As separações de Sílvia
e Ricardo era longas. Algumas delas duravam de dois a três anos
longe um do outro. Porém, o destino era implacável, eles sempre se
reconciliavam e voltavam a morar juntos. Destas idas e vindas, que
durou 9 anos ao todo, o sexo fazia parte deste relacionamento
conturbado. Ela nunca tinha pegado gravidez de Ricardo, pois Sílvia
queria trabalhar e ingressar na universidade de Administração de
Empresas.
O maior sonho de Sílvia
seria a constituição de uma relação segura, com o homem que
amava. Mas, o relacionamento deles estava cada vez pior, eles se
separaram novamente e já havia passado 3 meses. E há 3 meses também
a menstruação dela não vinha.
Ela foi ao médico e ele
foi categórico:
– Parabéns, mamãe!
Seu filhinho já está com 4 meses de vida!
Sílvia teve uma mistura
de alegria, por estar gerando uma vida e tristeza pela distância do
pai. Ela ligou para Ricardo e marcou um encontro, precisava dar a ele
a grande notícia.
– O que foi desta vez,
Sílvia? – disse ele, sem muita paciência.
– Você vai ser pai! –
falou ela de supetão.
A expressão facial dele
mudou da água para o vinho. O sorriso fez parte do rosto dele e eles
reataram o relacionamento naquele mesmo dia. Ricardo ficou muito
feliz e começou a dar todo tipo de carinho para Sílvia. Era tudo
que ela sempre quis de seu amado. Ele saiu contando para todo mundo,
inclusive para as irmãs de Sílvia.
– Quem garante que o
filho é seu? – disse uma delas, pondo um enorme ponto de
interrogação na cabeça de Ricardo.
– Você sabe, que minha
irmã sempre saía nas noitadas e festas... Ela sempre foi bonita e
isso chama a atenção dos homens. Quem garante? – disse a outra,
endossando o que a primeira havia dito.
Ricardo voltou para casa
pensando naquilo e daquele dia em diante passou a ter uma distância
de Sílvia dentro de casa. Ela não entendeu o porquê da mudança
dele, quando contou sobre o que as irmãs delas haviam dito.
– Você vai acreditar
mais nelas, do que em mim?
– Quem me diz, que este
filho é meu?
– Eu digo! Você foi o
único homem, que se deitou em minha cama. - disse ela, não
acreditando nas desconfianças dele. – Você sempre soube, que
minhas irmãs são invejosas, mas mesmo assim acredita nelas do que
em mim.
– Vou ficar com você
até a criança nascer. Depois veremos o que vamos fazer.
Eles continuaram morando
na mesma casa, deitando na mesma cama, mas o abismo que existia entre
eles era enorme. Se cumprimentavam, como se fosse dois estranhos.
Como se estivessem ali, cumprindo um contrato de risco. Risco dele
não ser o pai.
Sílvia foi dar uma volta
na praça perto de casa e se sentou em um banco, olhando as demais
crianças brincando.
– Bonitas, não é
mesmo? – disse uma idosa, de cabelos brancos e óculos de lentes
redondas, sentada do lado dela.
– Sim! São tão
lindas? – respondeu ela, com um desânimo na voz.
– Para uma pessoa que
está grávida, você está muito triste.
– Como a senhora sabe,
que estou gravida.
– Suponhamos, que
alguém me disse.
– Quem?
– Aquele! - disse ela
apontando, para o céu.
Sívia pensou que a idosa
fosse louca.
– Você sabia, que a
chegada de uma criança é capaz de mudar a personalidade do homem
mais carrancudo do mundo? É capaz de fazer uma família se unir? É
capaz de fazer surgir a verdade em meio a um mar de mentiras? É a
fronteira final da tristeza com a alegria. Não se preocupe, Ele lá
de cima vê tudo, sabe tudo e sabe consertar tudo também... Tudo na
hora dele. Confie!
Enquanto a mulher falava,
Sílvia olhava as crianças brincando, quando de repente um silêncio
surgiu e a idosa não se encontrava mais ao lado dela.
– Ué? Onde ela foi?
Cinco meses depois a
criança nasceu linda e saudável. Era um menino e para a surpresa de
todos, menos de Sílvia, ele se parecia muito com Ricardo. Daquele
dia em diante não houve mais atritos na família dela. Ricardo a
pediu em casamento e prometeu nunca mais dar ouvidos a intrigas
criadas pelos outros. Para melhorar a situação de Sílvia, suas
irmãs também casaram e foram viver felizes em outra cidade.
Sílvia voltou a praça a
procura da idosa, que a aconselhou a esperar pela verdade. A idosa
não se encontrava mais ali. Ela se sentou e ficou olhando o filho,
agora com quatro anos, brincando com os amiguinhos na caixa de areia.
– Linda criança esta
sua! - disse a idosa ao lado de Sílvia.
– Obrigada!
– Agradeça a Ele... –
disse apontando para o céu – Nunca se esqueça, por mais que
queiram implantar mentiras em sua vida, a verdade sempre aparecerá e
permanecerá.
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