Eu me chamo, Jesus!


Numa cidadezinha no interior do estado de Minas, no sudeste do país, o delegado estava chegando na chefatura e o cabo de dia veio na direção dele, com um olho aberto e outro fechado. Ele passou a noite inteira vigiando um homem estranho, preso no dia anterior.
Que bom que o senhor chegou, delegado!
Onde está o meliante, cabo Lauro? – disse ele, bem vestido e de café tomado. A noite dele foi bem melhor do que a do subordinado a sua frente.
Lá na última cela, como o senhor mandou!
O deixou sozinho?
Sim, senhor!
Ele falou alguma coisa, desde que foi preso?
Não senhor! Permaneceu sentado calmamente na cama... Mas, uma coisa me deixou encafifado!
O que foi cabo?
Todas as vezes que eu ia lá vê-lo... Ele sorria para mim!
Sorria?
Sim, senhor! Parecia, que ele não estava ligando muito para a prisão.
Vamos vê-lo! – disse o delegado decidido, entrando a passos firmes.
Passando por outros cárceres, o delegado e o cabo, viam os presos fazendo muito barulho. Quando chegou na cela do tal homem misterioso, o delegado parou e mandou o cabo abrir o cadeado.
Venha! Vou tomar o seu depoimento. – ordenou ele.
O tal homem de cabelos cumpridos e barba por fazer se levantou.
Ponha as algemas nele.
Delegado, ele está desarmado!
Faça o que eu mandei, cabo! E não discuta!
O cabo tirou as algemas do bolso e as colocou nos pulsos do homem.
Desculpe, mas são ordens! – disse ele, olhando-o no rosto.
Eu compreendo! – disse o estranho calmamente, que até aquele momento estava em silêncio.
Eles foram para a saleta do delegado e o prisioneiro foi posto sentado diante de uma mesinha. O delegado sentou-se diante dele e olhou fixamente nos olhos do homem.
Vamos começar... Seu nome? – disse ele, anotando em uma ficha.
Jesus!
Jesus de quê?
De Nazaré!
Local de nascimento?
Belém!
Belém do Pará?
Não, Belém no sul da Judeia!
Data de nascimento?
25 de dezembro!
De que ano?
Pelo calendário Cristão... Ano zero!
Você está de brincadeira comigo?
Não! Nunca faria isso!
Idade? – perguntou o delegado sem muita paciência.
2013 anos.
Escute aqui engraçadinho, se você não cooperar vai apodrecer na cadeia. Agora qual é seu verdadeiro nome? – perguntou rispido.
Jesus de Nazaré, eu já disse!... Também conhecido como Jesus Cristo, Rei dos Judeus! O sobrenome Cristo veio depois de minha crucificação.
E eu sou o Papai Noel! – disse o delegado, em tom de gozação.
Eu conheço o São Nicolau e você não é ele.
Quer parar de palhaçada! Eu estou falando sério!
Eu também!
Não vai me dizer que você foi crucificado no ano 33 e tem chagas nas mãos!
Ele estendeu as mãos, ainda algemadas, e lá estavam as chagas feitas pelos pregos. Delas, uma luz forte azulada foi emitida. O delegado deu um salto para trás assustado.
Je... Je... Jesus!
Finalmente alguém me reconheceu! Tava demorando!
Cabo! Cabo! – gritou o delegado assustado, com os olhos esbugalhados.
O subordinado entrou correndo na sala e o delegado mandou tirar rapidamente as algemas do homem a sua frente.
Obrigado! – disse Jesus calmamente, esfregando os pulsos.
Me perdoe, Senhor? - disse o delegado, emocionado.
Eu sempre perdoo! – disse Ele, se levantando e caminhando em direção à porta de saída. – Tu que precisas treinar mais um pouco a atitude do perdão, pois a rispidez que tens em seu coração, está ofuscando a tua alma boa e seu corpo.
Sim, Senhor!...Onde poderei encontrá-lo novamente?
Me chame, que eu virei ao teu encontro a hora que for... Que meu Pai os abençoe! Agora tenho mais uma alma a purificar– disse Ele saindo lentamente porta afora.
Por que o senhor o soltou?

Eu estava cometendo uma grande injustiça, cabo! Cometendo uma grande injustiça.

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